CFMV Entrevista: Médica veterinária Gisela Hutten fala sobre o trabalho da equipe de Vigilância Sanitária no Rock in Rio

20/09/2017 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:44am

Por Flávia Lôbo

O evento “Rock in Rio 2017” , que teve início no dia 15/09 e segue até o dia 24/09, estima um público de 100 mil pessoas por dia, com pelo menos 10 mil trabalhadores. Em eventos de massa como este os riscos de agravos à saúde aumentam devido à grande concentração de público e de trabalhadores de diversas regiões; à diversidade de operações, de serviços e de circulação de produtos; ao consumo de alimentos.

A atuação da Vigilância Sanitária tem papel fundamental na prevenção e na promoção da saúde humana, e os últimos grandes eventos, como a Copa do Mundo e Olimpíadas,  trouxeram uma grande experiência para todo o corpo técnico da Subsecretaria de Vigilância, Fiscalização Sanitária e Controle de Zoonoses do Rio de Janeiro.

Recentemente, a apreensão de centenas de quilos de alimentos em ao menos dois estabelecimentos no Rock in Rio, incluindo o restaurante da chef Roberta Sudbrack, gerou polêmica e repercutiu nos principais veículos de comunicação e redes sociais.

A Subsecretaria de Vigilância, Fiscalização Sanitária e Controle de Zoonoses do Rio de Janeiro explicou, em nota, que a origem da ação se deu pela falta de selos de inspeção de validade nacional nos produtos apreendidos. “A finalidade do órgão é de impedir que a saúde humana seja exposta a perigos. Alimentos com circulação nacional precisam ter registro junto ao Ministério da Agricultura, através do selo do Serviço de Inspeção Federal (Sif). No estabelecimento Sudbrack Gastronomia, foram encontrados produtos de origem animal (linguiça e queijo) sem os devidos registros”, diz a nota.

De acordo com a instituição, quando o produto tem apenas o certificado Serviço de Inspeção Estadual, só pode ser comercializado no estado onde foi produzido. Confira a nota na íntegra, clique aqui.

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) manifesta apoio ao trabalho realizado pela fiscalização da Vigilância Sanitária durante o evento e ressalta a importância do trabalho de inspeção dos produtos de origem animal para que as pessoas possam consumir esses alimentos sem riscos à saúde.  Não há eventos de massa sem controle sanitário e a base curricular deste profissional contém a capacidade de atuar e de desenvolver novos conhecimentos em favor da Saúde Única – Saúde animal, humana e ambiental.

O grupo de Vigilância Sanitária designada para o evento “Rock in Rio” é composto de 90 profissionais e, deste total, 30 são médicos veterinários. Dentre eles, a médica veterinária Gisela Cornelia Hutten. Ela atua há 30 anos na Vigilância Sanitária da Prefeitura do Rio de Janeiro, na área de segurança de alimentos e integra as ações de vigilância sanitária em eventos de massa. Além disso, Gisela é integrante da Comissão Nacional de Alimentos do CFMV.  O trabalho no “Rock in Rio” é intenso, mas entre uma pausa e outra Gisela concedeu entrevista à Assessoria de Comunicação do CFMV. Confira!

Ascom/CFMV: Como é trabalho de vigilância sanitária no ‘Rock in Rio’? Como é a atuação da equipe de médicos veterinários?

Gisela Hutten: As ações de inspeção contam com o trabalho das Coordenações de Saúde do trabalhador, Produtos e Serviços e interesse à Saúde, Alimentos, Engenharia Sanitária, Controle de Zoonoses e do Laboratório Municipal de Saúde Pública.

Durante o evento, operam por dia 40 técnicos das diversas coordenações para fiscalização dos ambientes e serviços. A equipe de médicos veterinários é composta, diariamente, por 15 técnicos de inspeção e 5 de coleta e análise laboratorial de alimentos e água. Diariamente, antes de iniciadas as verificações, discutimos as ações tomadas e os ajustes necessários dentro do plano operacional previsto.

Todos os dias, no início e no final da ação no evento, recolhemos informações nos postos médicos sobre número de atendimentos e de casos direcionados ao consumo de alimentos, bebidas e água, doenças transmitidas, surtos e acidentes com trabalhador, sendo que a notificação de agravos é obrigatória e imediata por parte dos postos médicos para que seja possível a rápida intervenção, acionamento da vigilância epidemiológica e demais órgãos de controle, de acordo com a gravidade.

Ascom/CFMV: Como é sua atuação como médica veterinária no Rock in Rio? Quais os maiores desafios?

Gisela Hutten: Minha atuação está em coordenar a operacionalidade das ações, compilar e informar dados, auxiliar as coordenações técnicas, contatar a organização do evento e participar das decisões para harmonizar e integrar as ações.

Os desafios são grandes para todos os órgãos públicos de controle envolvidos na segurança do evento. Quanto ao controle sanitário do evento de massa, a ação prévia tem papel fundamental na prevenção de agravos à saúde e posteriormente, durante o evento, a atuação integrada das coordenações de vigilância sanitária na avaliação dos aspectos sanitários, com intervenções imediatas, são capazes de eliminar ou minimizar os agravos sanitários à níveis seguros.

Ascom/CFMV: Como são divididas as ações do evento?

Gisela Hutten: As ações em evento de massa se iniciam com reuniões prévias ao evento, quando é apresentado o plano operacional. São discutidas a previsão de público e de trabalhadores; a forma de abastecimento, preservação e controle da qualidade da água; complexidade das instalações e das atividades desenvolvidas no evento; serviços contratados; condições de alimentação e de alojamento para trabalhadores; fornecedores de alimentos e tipos de alimentos; transporte de alimentos e de gelo; controle de zoonoses; controle sanitário de animais nas instalações do evento para prevenção de acidentes com pessoas e com o próprio animal; assistência médica, postos médicos e remoção de pacientes; sistemas de exaustão, climatização de ambientes e, o plano de gerenciamento de resíduos.

Posteriormente se iniciam as inspeções prévias das instalações e dos serviços prestados durante a montagem, quando são avaliadas as condições de trabalho e assistência ao trabalhador; qualidade da água de abastecimento; coleta de amostras de água e de alimentos para análise laboratorial, manejo de resíduos e vetores. Concomitantemente são avaliadas as sedes de fornecedores de alimentação tanto para trabalhador, como previstas para o evento, quando localizadas no município do Rio de janeiro.

Durante as ações prévias realizamos ações educativas com palestras para fornecedores e cursos de capacitação para manipuladores de alimentos e trabalhadores de outras áreas de interesse à saúde, como embelezamento, tatuagem e serviço de massagem comumente oferecidos em eventos de massa.

Ascom/CFMV: E as atividades pós evento?

Gisela Hutten: Após o evento são avaliadas as condições sanitárias da desmontagem do evento quanto à remoção das instalações e condições de trabalho. São avaliados os resultados com apresentação de dados para a organização do evento, de modo que esta possa aprimorar a qualidade a cada edição de evento Rock in Rio. 

Ascom/CFMV: Como um médico veterinário pode fazer parte da equipe técnica do “Rock in Rio”?

Gisela Hutten: São as coordenações de Vigilância Sanitária que designam os técnicos que vão atuar no evento e este corpo técnico faz parte do quadro funcional de Subsecretaria de Fiscalização, Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses (SUBVISA).

Assessoria de Comunicação do CFMV